Resgatando valores

Nos próximos dias, mais uma edição da Festa da Colônia e Feira do Mel oferecerá aos sapiranguenses e cidadãos vizinhos uma bela celebração da cultura alemã, cuja tradição tem marcado a história de muitos vales gaúchos há quase dois séculos. Os colonos gaúchos constituem um dos elos que a sociedade contemporânea tem para se reconectar com alguns valores que vêm sendo deixados de lado gradativamente, especialmente nas últimas décadas. O primeiro deles se refere a um estilo de vida natural, mais voltado ao que a natureza tem a oferecer à subsistência humana. Quem vive no campo sabe que plantas e animais fluem de acordo com ritmos e ciclos pouco influenciados pela vontade humana. Há épocas mais propícias para plantar e outras para colher, e diferentes espécies animais têm seus comportamentos influenciados pelas variações climáticas. É de grande sabedoria viver de acordo com tais mudanças, cultivando uma existência mais simples, com menos complicações e artificialismos típicos da vida urbana moderna, e mais conectada ao essencial. Por fim, destacaria ainda o respeito às origens e à ancestralidade que nos marca. Quem vive, e especialmente quem nasceu em Sapiranga e cidades vizinhas, carrega em sua história e em suas memórias mais antigas a força da superação, da transformação e da geração de oportunidades em situações adversas oriundas das culturas nativas e imigrantes. Mesmo que nos esqueçamos, ou sequer tenhamos consciência disso, podemos retomar o contato com esses valores que subjazem a construção do lugar que vivemos e a forma como ocupamos nosso espaço no mundo.

(Comentário publicado no Jornal Repercussão em 26 de junho de 2014)

Consumindo com consciência

A recente Black Friday inaugurou um dos períodos mais lucrativos para o comércio brasileiro até o Natal. Oferecendo descontos de até 80%, estimulou a população a comprar de forma impulsiva e impensada. À medida que tem crescido o incentivo ao consumo em escala mundial, tem-se mostrado fundamental a difusão do chamado consumo consciente, comportamento que leva em conta questões como preço e qualidade de um produto, mas também os impactos de sua compra para o consumidor, a sociedade e o meio ambiente. Para consumirmos de modo consciente, precisamos refletir sobre o que nos move a comprar. Uma real necessidade a ser atendida? Um vazio a preencher? Uma insatisfação a maquiar com a alegria efêmera que uma aquisição nos proporciona? Se para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve, como ouviu Alice nos País das Maravilhas, o mesmo vale para nós: quando não sabemos o que queremos, qualquer produto serve. Além disso, devemos nos questionar sobre os impactos da compra, do uso e do descarte do produto para o meio ambiente, que tem sofrido com o consumo exagerado, e para a sociedade, pensando sobre as relações de trabalho envolvidas em sua produção e os hábitos de consumo que estamos promovendo especialmente nas crianças, mais vulneráveis nessa fase de intensas aprendizagens e de formação de valores para a vida. Equilibrando nossa satisfação com os efeitos do consumo, é possível celebrar o Natal com maior economia, menor impacto ambiental e promover uma sociedade mais justa e consciente de si e de sua conexão com todos os seres do planeta.

(Comentário publicado no Jornal Repercussão em 05 de dezembro de 2013)